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Projeto Documenta: FICHA DESCRITIVA 005

"Diccionario da lingua tupy"

Dias, Antônio Gonçalves

 

Acesso ao texto
 
Documenta
 
 
 
Nome do autor
 
Antônio Gonçalves Dias
 
 
 
Datas do autor
 
(1823–1864)
 
 
 
Biografia
 
Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823 no sítio Boa Vista, a quatorze léguas de Caxias, Maranhão. Filho de um português com uma mestiça, desde os sete anos tomou aulas em casa e trabalhou no armazém de seu pai. Em 1835 foi retirado do balcão para freqüentar aulas de Latim, Francês e Filosofia. Com a recomendação do professor, seu pai decidiu mandá-lo concluir os estudos na Universidade de Coimbra, para onde viajou em 1838. Escreveu seus primeiros versos em Portugal, graduou-se em 1844 e, em 1845, retornou ao Maranhão. No ano seguinte, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se tornou professor de Latim e História do Brasil no Colégio Pedro II. Nesse período escreveu crônicas, críticas e folhetins literários para jornais. Nomeado oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros em 1852, partiu para a Europa em 1854, a fim de estudar métodos de instrução pública. Conheceu na Alemanha o editor Brockhaus, que publicaria parte de sua obra, inclusive seu Dicionário da Língua Tupi. Voltou ao Brasil em 1859 e fez uma série de viagens pela Amazônia, chefiando a seção de etnografia da Comissão Científica de Exploração, criada pelo governo para estudar os recursos da região norte. Voltou ao Rio no final de 1861. Com a saúde abalada, o poeta tencionava ir, em abril de 1862, tratar-se no Maranhão. No entanto, chegando ao Recife, foi dissuadido por um médico, que lhe recomendou os climas temperados da Europa meridional. Partiu, então, para Marselha. Sem que houvesse sanado seus males, Gonçalves Dias embarcou de volta ao Brasil em setembro de 1864. A 3 de novembro do mesmo ano, seu navio naufragou na costa maranhense, quando já se podia avistar a terra. O poeta, ao contrário de sua obra, não sobreviveu ao naufrágio (Cf. Bandeira 1998).
 
 
 
Título original
 
Diccionario da Lingua Tupy chamada Língua Geral dos Indígenas do Brazil
 
 
 
Tipo da obra
 
Dicionário bilíngue
 
 
 
Dados da 1a edição
 
Lipsia: F. A. Brockaus [Livreiro de S. M. o Imperador do Brazil], 1858
 
 
 
Século
 
XIX
 
 
 
Descrição da edição consultada
 
Brochura impressa, composta por Capa (1p.); Folha de rosto (1p.); Dedicatória [ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB)]; Prefácio (pp. V-VIII); Dicionário (pp. 1-191); e Contra-capa (1p.).
 
 
 
Reproduções
 
Após a primeira edição (1858), só se encontram novas publicações da obra no século XX, sobretudo em sua segunda metade. Há uma reprodução de parte dos verbetes das letras K e M do dicionário, publicada na Revista de Lingua Portuguesa (10:157-162, 1921). Em 1959, foi publicada reprodução fac-similar da primeira edição, na Poesia completa e prosa escolhida de Gonçalves Dias (Rio de Janeiro: José Aguilar, pp. 845-912), sem respeitar o formato e a disposição tipológica alemã, “considerada a melhor por ter sido feita sob a direção do poeta” (p. 842). Em 1965 e 1970 foram feitas novas reproduções fac-similares das linhas da primeira edição, que tampouco respeitaram o formato e a disposição tipográfica, publicadas com o título: Dicionário da Língua Tupi chamada Língua Geral dos Indígenas do Brasil (Rio de Janeiro: Livraria São José). Estas duas últimas reproduções são idênticas, exceto pelo  fato de que a mais recente (a de 1970) apresenta a xérox da capa original (de 1858) do Dicionário. Mais adiante, encontramos reproduções do Dicionário em 1983, no apêndice do Vocabulário Tupi Guarani, de Francisco da Silveira Bueno. (São Paulo: Nagy); 1998 (Rio de Janeiro: José Aguilar), e, por fim, 2000 (São Paulo: Martins Fontes).
 
 
 
Difusão
 
O valor do dicionário de Gonçalves Dias é controverso, mas, sem dúvida, o trabalho circulou amplamente entre os intelectuais brasileiros, ainda que tenha gerado mais críticas que elogios. Edelweiss (1969:201), apesar de atacar ferozmente a obra, atribuindo-lhe “valor científico precaríssimo”, atesta que “os afeiçoados à lingüística Tupi [...] socorriam-se dos compêndios guaranis, do Dicionário Português e Brasiliano [...] e, [...] de um dicionário tupi composto [...] por Gonçalves Dias” (cf. Edelweiss 1969: 56). E não é senão sem uma discreta ponta de ironia que Ayrosa (1934) comenta as fontes de que se valeu o “grande Gonçalves Dias”, nos seus termos, ao mencionar o Dicionário (cf. Ayrosa 1934: 21-21). V., ainda, o Pequeno vocabulário tupi-português (Rio de Janeiro: São José, 1967), em que P. Lemos Barbosa, seu autor, além de não se valer de G. Dias, critica-o..
 
 
 
Língua(s) descrita
 
Língua Geral e Tupi antigo. As principais críticas dirigidas ao Dicionário resultam dos anacronismos lingüísticos ocasionados pela heterogeneidade das fontes consultadas. Edelweiss (1969: 189), e também Bueno (1983: 347), afirmam que o Dicionário de Dias é uma miscelânea de dialetos de lugares e épocas diferentes, com forte presença do tronco amazonense do Nheengatu. De acordo com esses autores, Dias teria contribuído mais para gerar confusão e complexidade no que diz respeito à terminologia de nossas línguas indígenas do que para esclarecê-las. 
 
 
 
Fontes utilizadas
 
“Tomei por baze o vocabularboio, que o autor da ‘Poranduba Maranhense’ accrescentou ao seo trabalho, valendo-me da Grammatica do Padre Figueira, do Diccionario Braziliano, publicado por um anonymo em Lisa, no anno de 1795, de um Manuscripto com que deparei na Bibliotheca Publica do Rio de Janeiro, e cujo titulo me esquece agora, de outro Diccionario, tambem manuscripto, da Bibliotheca da Academia Real das Sciencias, de Lisboa, e de quatro dos cadernos que acompanharão as remessas do nosso distincto e infatigavel naturalista —Alexandre Rodrigues Ferreira, durante a sua commissão scientifica pelo Amasonas nos annos de 1785, 86 e 87.”(Dias 1858: Prefácio: VI-VII). V. também Ayrosa (1934: 20-21)
 
 
 
Língua descritora
 
Português
 
 
 
Sumário da obra
 
O conjunto vocabulário compõe-se de palavras Tupis (e também da língua geral?) e seus respectivos significados em Português (pp. 1–191). Os verbetes (c. de 4 mil) só apresentam a classe gramatical a que a palavra pertence nos casos em que uma mesma forma apresenta várias possibilidades de uso. Não se faz distinção sistemática dos registros —apesar de algumas menções esparsas ao contexto de utilização de alguns termos— e também não é abordada a etimologia dos vocábulos selecionados.
 
 
 
Objetivo do autor
 
O Dicionário resultou de uma encomenda feita ao autor pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que lhe havia solicitado uma ‘Memória’ acerca dos índios do Brasil. Nesta Memória, caberia ao autor tratar dos aspectos ‘morais’ e ‘intelectuais’ das tribos, tarefa que não poderia ser realizada, na sua visão, sem o conhecimento prévio da língua. Baseando-se em trabalhos anteriormente publicados (cf. abaixo item ‘Influências’), Dias procedeu à compilação de termos Tupis, organizada em forma de Dicionário e dedicada ao Instituto, como “merecida homenagem pela attenção que taes estudos lhe tem merecido, pela solicitude com que os promove e pela benevolencia com que os acolhe.” (Dias 1858: Prefácio: V-VI). A dedicatória de Dias atesta o papel do Instituto na política lingüística em prática no Brasil Imperial, fortemente incentivadora dos estudos indigenistas.
 
 
 
Contribuição da obra/ influências
 
As severas críticas feitas por Edelweiss (1969), Bueno (1983) e Barbosa (1967) ao dicionário de Gonçalves Dias confirmam o impacto do trabalho de Dias nos estudos da tradição descritiva Tupi/Nheengatu. Com efeito, ‘críticas’, em historiografia lingüística, são um importante índice de ‘sucesso’ (Murray 1994). Essas críticas se sintetizam bem em Edelweiss (1969:189), para quem o dicionário é “...uma mistura indiscriminada de todas as palavras tupis respigadas [...] em diversos manuscritos, sem distinção de região ou tempo e acrescida de alentada série de erros de cópia e impressão.” Para Bueno (1983: 347), “...convém, entretanto, conservar este vocabulário sob o seu inegável valor histórico”. De fato, o Dicionário de Gonçalves Dias é um importante documento de um período em que se procurou valorizar o índio e a cultura brasileira ‘primitiva’ como os delineadores de uma identidade nacional singular, e como ‘objeto’ de estudo científico, o que alçará as questões indígenas, para as gerações posteriores, a um outro patamar. 
 
 
 
Palavras - chave
 
Acusativo da pessoa, Agente, Amazonas, Artigo, Brasil-imperial, Desinência verbal, Desinência nominal, Dicção, Dicionário, Diccionario Braziliano, Etimologia, Eufonia, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Língua geral, Linguagem vulgar, Linguagem científica, Maranhão, Nome verbal, Pará, Poranduba Maranhense, Radical, Tupi antigo, Verbo-absoluto, Verbo ativo, Verbo defectivo, Verbo intransitivo, Verbo de movimento, Verbo passivo, Verbo de quietação, Verbo transitivo, Vogal singela.
 
 
 
Bibliografia
 
 
 
 
Autor da ficha/data
 
Paulo Victor Pivaro Monteiro e Stela Maris Danna, com a colaboração de Cristina Altman
Autores

Antônio Gonçalves Dias

Séculos

XIX

Palavras-chave

 Acusativo da pessoa, Agente, Amazonas, Artigo, Brasil-imperial, Desinência verbal, Desinência nominal, Dicção, Dicionário, Diccionario Braziliano, Etimologia, Eufonia, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Língua geral, Linguagem vulgar, Linguagem científica, Maranhão, Nome verbal, Pará, Poranduba Maranhense, Radical, Tupi antigo, Verbo-absoluto, Verbo ativo, Verbo defectivo, Verbo intransitivo, Verbo de movimento, Verbo passivo, Verbo de quietação, Verbo transitivo, Vogal singela.