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Projeto Documenta: FICHA DESCRITIVA 003 

"Dicionário Português-Brasiliano (DPB)"

Ayrosa 1934 [1795]

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Nome do autor
 
O Dicionário Português-Brasiliano (DPB) de 1795 é de autoria anônima. No prólogo desta edição (Lisboa: Editora Patriarchal, sem nome do a., 1795), reproduzido em Ayrosa (1934: 31-33), aparece apenas a informação de que se trata de um dicionário composto por um missionário dos índios. Com o tempo, estudos bibliográficos levantaram várias hipóteses sobre a autoria do Dicionário das quais aqui se dá notícia de duas.

Houve a hipótese de que Frei Jose Mariano da Conceição Velloso (1742–1811), botânico e naturalista brasileiro, teria sido o autor da obra. Segundo Ayrosa (1934), Frei Velloso era, de fato, um erudito “apaixonado das cousas brasilicas”, que já havia escrito outras obras e era sacerdote “como quase todos os grandes mestres das linguas selvagens”. Além disso, exames dos manuscritos existentes na Biblioteca Nacional (RJ) identificavam como sua a letra do Dicionário e “... o carater e a feição do Diccionario não exigiam que seu autor fosse um profundo conhecedor da Lingua Geral” (cf. Ayrosa 1934: 8).

Em 1880, porém, o volume VIII dos Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, com uma bibliografia de obras impressas e manuscritas sobre a língua geral do Brasil (Catálogo de Valle Cabral n. 258), informou sobre a existência de um dicionário manuscrito, datado de 1751, que correspondia àquele Dicionário (=DPB) publicado por Frei Velloso em 1795. Em 1751, Frei Velloso teria apenas nove anos de idade, o que o descarta, definitivamente, como autor do Dicionário.

Frei Velloso não é, portanto, conclui Ayrosa (1934:12), o autor da obra, mas sim aquele que encontrou e publicou em 1795 a primeira parte do manuscrito de 1751, isto é, o Diccionario Portuguez-Brasiliano, (=DPB), a ser oportunamente acrescido de uma segunda parte [i.e. Brasiliano-Português], apenas esboçada naquele manuscrito, mas anotada e ampliada por ele, Velloso. Esta segunda parte permaneceu inédita até a edição de 1934, de Plínio Ayrosa.

Quem seria então o autor do manuscrito de 1751?

Em 1891, o Instituto Histórico Brasileiro publicou a Poranduba Maranhense, de Frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres de Maranhão (1790-1852). No apêndice de sua obra, Frei Prazeres, ao dar “noticias da lingua fallada” na região, fez uso de um dicionário [Brasiliano-Português] que afirmou ser de autoria de um certo Frei Onofre, “... antigo missionario dos indios, entre cujas obras manuscriptas eu o descobri na livraria do Convento de Santo Antonio do Maranhão.” (cf. Ayrosa 1934:16). O Dicionário Onofre — ou a parte dele publicada no vol. 54 da Revista do Instituto com o título de Diccionario da lingua geral do Brasil— é exatamente o reverso do dicionário impresso por Frei Velloso em 1795, isto é, ambos contêm os mesmo vocábulos. Frei Onofre, portanto, é o autor do que se convencionou chamar a primeira parte do Dicionário Português-Brasiliano, publicada por Frei Velloso em 1795, e por vários outros autores ao longo do século XIX (cf. Ayrosa 1934:17).

 
 
 
Datas do autor
 
fl. séc. XVIII
 
 
 
Dados do editor
 
Plínio Marques da Silva Ayrosa (1895-1961) nasceu em São Paulo, foi engenheiro, filósofo, professor de etnografia e especialista em dialetos Tupi e Guarani da Universidade de São Paulo, USP. Enquanto cursava a escola Politécnica, do Rio, trabalhava como repórter na Gazeta de Notícias e, nas horas vagas, dedicava-se aos estudos do Tupi e do Guarani. Quando terminou seu curso, tirou o 1º lugar de sua turma e ganhou uma viagem à Alemanha. Lá, Ayrosa encontrou um centro de estudos da língua indígena brasileira, estudiosos do assunto e obras sobre o Tupi e o Guarani. A convite de Sud Menucci (1892–1984), então Secretário da Educação, Ayrosa iniciou a realização, em São Paulo, de um curso de Tupi e de Guarani. Começou a lecionar em 1931, e, três anos mais tarde, tornou-se Professor Titular da Cadeira de Tupi da Universidade de São Paulo. Em 1947, já havia publicado cerca de 120 obras. Logo em seguida, com um grupo de colaboradores, construiu o Museu Indianista, um centro de estudos sobre o índio, sua língua e seus costumes.
 
 
 
Título original
 
Diccionario Portuguez e Brasiliano (1795)
 
 
 
Outro(s) título(s)
 
Ayrosa, Plinio 1934 [1795]. Diccionario portuguez-brasiliano e brasiliano-portuguez.
 
 
 
Tipo da obra
 
Dicionário bilíngue
 
 
 
Dados da 1a edição
 
A obra foi publicada pela primeira vez em 1795, em Lisboa, na Officina Patriarchal, provavelmente pelo Frei Jose Mariano da Conceição Velloso (cf. Ayrosa 1934). Nesta edição foi publicada apenas a parte da obra relativa ao Português–Brasiliano. Há manuscritos deste dicionário datados de 1751 que, segundo Ayrosa (1934), teriam sido escritos antes mesmo desta data.
 
 
 
Século
 
XVIII
 
 
 
Edição consultada
 
1934[1795]. Diccionario portuguez-brasiliano e brasiliano-portuguez. Reimpressão integral da edição de 1795, seguida da 2ª parte, até então inédita, organizada e prefaciada por Plinio M. da Silva Ayrosa. São Paulo: Imprensa Oficial, 319 páginas.
 
 
 
Descrição da edição consultada
 
A edição de 1934 do DPB, prefaciada e organizada por Plinio Ayrosa, traz o que se convencionou denominar de ‘primeira parte’ (=Português e Brasiliano), tal e qual publicada por Frei Velloso em 1795, acrescida de uma segunda parte (=Brasiliano-Português), até então inédita. Esta segunda parte é, segundo seu organizador, a reversão integral da edição de 1795. Constitui-se a edição de 1934 de: Folhas de rosto (1-3); Prefácio de Plínio Ayrosa (5-24); [Título da] Primeira Parte= Diccionario Portuguez-Brasiliano (reimpressão integral de 1795) (25); Nota [ass. por Valle Cabral] sobre a reimpressão da 1ª. parte do Diccionario, publicado em 1795 (27-28); [Título do] Diccionario Portuguez e Brasiliano Primeira Parte (29); Por Prologo se offerece o seguinte (31-33); Advertência sobre a Orthographia e Pronunciação desta Obra (35-39); Diccionario Portuguez e Brasiliano da língua Geral do Brasil (41-124); [Título da] Segunda Parte= Diccionario Brasiliano-Portuguez (Manuscripto Inedito da Biblioteca Nacional n. 258) (125); Nota sobre o manuscripto da Segunda Parte [ass. por Ayrosa] (127-128); Diccionario Brasiliano e Portuguez ou Da Língua Geral do Brasil (129-319); Errata (321)
 
 
 
Reproduções / difusão
 
Várias foram as reproduções — na sua maioria parciais— dos manuscritos originalmente atribuídos a Frei Onofre, e publicados como Dicionário Português-Brasiliano por Frei Velloso (1795). Ayrosa (1934:19ss) enumera as seguintes: Vocabulário da língua Geral uzada hoje em dia no alto Amazonas , datado de 1852; (Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 17, p. 533); Diccionario da Língua Geral dos Índios do Brasil, reimpresso e augmentado com diversos vocabularios, e offerecido a Sua Magestade Imperial por João Joaquim da Silva Guimarães, natural da Bahia (Typ. De Camillo de Lellis Masson, 1854); Diccionario da lingua tupy chamada lingua Geral dos indígenas do Brasil, de Gonçalves Dias (Lipsia: F. A. Brockhaus, 1858); Glossaria linguarum brasiliensium, de Martius (Erlangen druck von Junge e Sohn, 1863, que constitui o segundo volume da obra do autor denominada Beiträge zur Ethnographie Sprachenkunde Amerika’s zumal Brasiliens (Leipzig: Friedrich Freischer, 1867); Vocabulário dos índios Cayuás (Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 19); Diccionario anonymo da língua Geral do Brasil (repr. fasimilar da edição de 1795, e reverso ed. por Platzmann, 1896).
 
 
 
Língua(s) descrita
 
A língua alvo do autor é  o chamado Brasiliano, ora referida por Ayrosa (1934) como Tupi, ora como Língua Geral. “Ao comentar o DPB [Dicionário Português e Brasiliano] Edelweiss (1969) esclarece que a língua nele contida ‘nunca foi falada por legítima tribo tupi, mas por índios outros, aculturados, e pelos mestiços de toda a casta, do Maranhão e Pará, ao raiar o Setecentos. (...) Da língua-geral bahiana ou vicentina, não se originariam nunca certas formas léxicas, que dão o cunho todo peculiar ao DPB e aos vocabulários brasilianos em geral. É que na raiz deles não está o tupi doa jesuítas, mas o dialeto tupinambá do Maranhão, que só a superficialidade das breves análises ousará identificar com o tupi unificado, como já mostramos. Demais, da costa de Pernambuco a São Vicente não se verificaram influências linguísticas apreciáveis de outras famílias indígenas, enquanto no Maranhão e no Pará elas foram contínuas, sempre renovadas por novos descimentos.’” (apud Magalhães 1981: 65). Tupi-Médio (Monserrat 2003)
 
 
 
Língua descritora
 
Português
 
 
 
Objetivo do autor
 
O próprio autor nada declara a respeito de sua obra ou de suas intenções em divulgá-la, porém, na capa da edição de 1795 há, logo depois do título, o seguinte texto: “Obra necessaria aos ministros do altar/ Que emprehenderam a conversão de tantos milhares/ de almas que ainda se achão dispersas pelos/ vastos certões do Brasil, sem o lume/ da Fé, e Baptismo/ Aos que Parocheão Missões antigas, pelo embaraço/ com que nellas se falla a Lingua Portugueza/ para melhor poder conhecer o estado/ interior das suas Consciências/. A todos os que se empregarem no estudo da Historia/ natural, e Geographia daquelle paiz; pois couserva/ constantemente os seus nomes originários/, e primitivos/ ...”. E, no “Prologo” da edição de 1795, o editor (provavelmente Velloso, cf. Ayrosa (1934), aponta a língua indígena com grande admiração, diz que apesar do vocabulário limitado e dos índios não terem idéia alguma sobre religião, exceto a da natureza, eles conseguem, com sua própria linguagem, toda a comunicação de que precisam. Velloso dá à língua indígena um ar de pureza, a enaltecendo, e constrói uma oposição com “as linguas sábias (...) do homem na idade varonil”, que afirma serem nascidas da “podridão”. Justifica a necessidade desse dicionário como o que faltava para que melhor se pudesse entender essas suas afirmações.
 
 
 
Contribuição da obra/ influências
 
Conforme Ayrosa (1934:19), “Innumeros curiosos e cultores da Lingua Geral della se aproveitaram para suas publicações, dando-lhes, quasi sempre, uns ares de trabalho novo.” Cf. item ‘reproduções’ acima.
 
 
 
Palavras-chave
 
Brasiliano, dicionário, jesuíta, língua brasílica, língua geral, lingüística missionária, Tupi médio, vocabulário
 
 
 
Bibliografia
 
 
 
 
Autor da ficha/data
 
Autores

Ayrosa 1934 [1795]

Séculos

XVIII

Palavras-chave

Brasiliano, dicionário, jesuíta, língua brasílica, língua geral, linguística missionária, Tupi médio, vocabulário.