Prezados colegas,
Comunicamos o cancelamento do minicurso “A Gramática Escolar: um subgênero do gênero gramatical”, que seria proferido pela Profª. Drª. Maria Filomena Gonçalves (Universidade de Évora – Portugal), durante os dias do Mini-Enapol de Historiografia Linguística da USP. Infelizmente, a Profa. Filomena está passando por problemas de saúde e, na noite de ontem (5/8), recebeu orientações médicas que impedem a sua viagem ao Brasil.
Vale dizer que a Profa. Filomena e a Comissão Organizadora estão bastante tristes com o ocorrido, contudo, a situação foge ao controle de ambas as partes.
Comunicamos ainda que a programação do Mini-Enapol segue sem outras alterações.
Enfatizando nossos pedidos de desculpas, contamos com a compreensão de todos.
A GRAMÁTICA ESCOLAR: UM SUBGÊNERO DO GÊNERO GRAMATICAL?
Ministrante: Profª Drª Maria Filomena Gonçalves (Universidade de Évora/CIDEHUS-UÉ/Fundação para a ciência e Tecnologia)
Datas: 12, 13 e 14 de agosto de 2015 (das 9 às 12h)
Duração: 9h
OBJETIVOS
O minicurso tem como objetivo identificar as “marcas” distintivas da “gramática escolar”, procurando situar a gramática destinada ao ensino-aprendizagem do Português no contexto do género metalinguístico conhecido, desde a Antiguidade, como “gramática”. Trata-se de identificar traços que, no plano da estrutura interna e da estrutura externa da gramática escolar, possibilitem a sua caracterização como “subgénero gramatical”, uma vez que os destinatários (público-alvo), a faixa etária destes, o programa da escolarização, o tipo de escola e o nível de ensino (fundamental, médio), não só condicionou como determinou os conteúdos e o discurso gramatical. Partindo destes pressupostos, o minicurso visa caracterizar a gramática escolar quer no plano estrutural e conteudístico, quer no plano discursivo, de maneira a encontrar uma resposta para a interrogação lançada no título do curso. Trata-se, pois, de determinar em que se distingue a “gramática escolar” da gramática tout court.
Com este propósito, serão analisados fragmentos de textos gramaticais (relativos, em particular, aos elementos “paratextuais”, aos principais conceitos, à divisão em partes e à terminologia a ela associada) cujos títulos circunscrevem os públicos ou remetem para determinado nível de ensino. Assim, após uma prévia problematização epistemológica e uma contextualização histórica (a tradição gramatical portuguesa e seu desenvolvimento até à oficialização do ensino do português em 1770), centraremos a nossa atenção em textos do século XVIII e, em especial, do século XIX, centúria em que, à produção portuguesa se junta a brasileira.
METODOLOGIA
A metodologia consistirá em:
- Explanação teórica e apresentação de dados históricos e linguísticos que contextualizem os textos escolhidos;
- Leitura comentada de trechos, envolvendo os participantes no minicurso;
- Análise comparativa de textos portugueses e brasileiros;
- Projeção em power-point com documentos ilustrativos e sínteses analíticas de dados e tópicos.
- Interação com os participantes com vista à extração de conclusões no final do curso;
- Realização de atividades pelos participantes e comentário partilhado de resultados.
TÓPICOS
Sessão 1 (3h)
- A tradição gramatical portuguesa – A construção de uma tradição
- Problematização e questões epistemológicas da gramática
- Breve histórico (sécs. XVI-XVIII)
- Do Renascimento ao Século das Luzes: gramáticos, gramáticas e seus (con)textos: prescrição vs descrição na tradição
- Gramática: Para quem? Para quê? Para que língua?
2ª Sessão (3h)
- A gramática da língua portuguesa nos séculos XVIII e XIX
- O Iluminismo e o ensino das línguas: gramática e poder/gramática e ideologia
2.1.1.Contextos e textos: Argote (1725); Lobato (1770); Figueiredo (1799)
- Gramáticas gerais filosóficas tardias: Dias (1804); Soares Barbosa (1822)
- “Gramáticas gerais” tardias: o ecletismo gramatical e a gramática escolar
- O “historicismo do século XIX, a mudança de paradigma e a emergência da “gramática científica”: gramática escolar e "gramática científica"
3ª Sessão (3h)
- A “gramática escolar” no século XIX
- Gramática escolar: subgénero gramatical?
3.1.1. Textos e contextos: Ferreira (1819); P. Inácio (1840); Compêndio (1852); Figueiredo Vieira (1858); Pinheiro (1864); Villeroy (1870); Braga (1876); Bensabath (1882), entre outros.
3.1.2. “Marcas” distintivas: títulos (expressões especificadoras); "paratextos" (prólogo, dedicatória, introdução…); estrutura (externa e interna); conteúdos; exemplificação; discursos e estratégias.
3.1.3. Comentário de casos: gramáticas portuguesas e brasileiras.
BIBLIOGRAFIA
ATIVA
Gramáticas escolares
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BRAGA, Teófilo (1876): Grammatica portugueza elemental, fundada sobre o methodo histórico-comparativo. Porto: Livraria Portugueza e Estrangeira.
coelho, f. Adolfo (1891): Noções elementares de grammatica portugueza. Obra que contém as matérias dos exames d’ensino primário elementar e de admissão aos lyceus. Porto: Lemos & Cª.
Compendio de grammatica portugueza para uso do Lyceo de Pernambuco extrahido de Jeronymo Soares Barbosa e d’outros gramáticos (1852). 2ª edição inteiramente refundida. Pernambuco: Typ. dos Editores e Proprietarios Santos e Cª.
DIAS, Augusto Epifânio da Silva (1870): Grammatica practica da lingoa portugueza. Porto: Livraria Universal de Magalhães & Moniz Editores.
FERREIRA, Francisco Soares (1819): Elementos de grammatica portugueza ordenados segundo a doutrina dos melhores grammaticos para aplanar á mocidade o estudo da sua lingua. Lisboa: Na Impressão Regia.
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SAMPAIO, Adrião P. Forjaz (1851): Grammatica da Infancia. Coimbra.
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PASSIVA*
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*Será facultada uma bibliografia geral durante o curso.